alimentação x herpes

Alimentação interfere nos surtos de herpes:
Lisina e arginina podem estar relacionados à frequência e à duração dos episódios da doença

Embora os cientistas estimem que cerca de 90% da população seja portadora do vírus da herpes tipos 1 e 2, apenas 10% desse contingente desenvolve as manifestações da doença.
Não há estudos conclusivos para explicar a imunidade da maior parte dos infectados, mas as causas podem estar relacionadas às características genéticas de cada indivíduo. Ao mesmo tempo em que não há conclusão sobre os fatores imunossupressores, algumas pesquisas realizadas nas duas últimas décadas sugerem que a frequência e a duração dos surtos podem estar associadas à alimentação, mais precisamente à ingestão de alimentos com dois aminoácidos essenciais: a arginina e a lisina.

A arginina tem papel importante na divisão celular, cicatrização de feridas, remoção de amônia do organismo e produção de hormônios, e está associada à disseminação do vírus. A substância é encontrada em alimentos como chocolate, amendoim, nozes, gelatina, castanha de caju e semente de girassol. Em contrapartida, a lisina, presente em alimentos ricos em proteína como carne, peixe e laticínios, estaria vinculada à redução das erupções de herpes. Na avaliação da dermatologista Meire Gonzaga, preceptora do Departamento de Cosmiatria da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), os estudos realizados não são conclusivos quanto à eficácia de uma alimentação mais restritiva de alimentos ricos em lisina em detrimento da arginina, principalmente pelo fato de o herpes ser uma doença que, embora provoque desconforto, geralmente não traz grandes complicações à saúde.

“Acredito que os estudos merecem questionamento em relação à restrição aos alimentos com arginina, que têm os ácidos ômega, importantes para a prevenção de algumas doenças, e também com a ingestão indiscriminada de lisina, presente em alimentos que podem aumentar o colesterol”, observa, ao informar que as reduções dos surtos não são tão significativas se comparadas aos riscos.
Algumas pesquisas indicam que a incidência de surtos em indivíduos submetidos a um regime rico em lisina foi de três durante seis meses, enquanto quem não ingeriu a substância teve média de 4,2 vezes no mesmo período.

Imunidade

As duas variações mais comuns do herpes, HSV-1 e HSV-2, podem ser responsáveis pelas manifestações oral e genital, caracterizadas por erupções e vesículas na região labial e genitais. A contaminação ocorre pelo contato direto com o vírus em seu período reativo, pois costuma se alojar no sistema nervoso e se manifestar durante as fases de queda na imunidade dos portadores. Entre as situações comumente associadas às manifestações herpéticas estão os períodos de estresse, menstruação, gripe, febre ou durante exposição extrema ao sol. A duração e a frequência dos surtos variam de acordo com o indivíduo.
Segundo o endocrinologista e nutrólogo João César Castro Soares, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os estudos com suplementação de lisina apresentaram resultados mais eficazes no controle do vírus em relação ao tipo 1. “A utilização de doses do aminoácido entre 500 miligramas e 1 grama ao dia fez com que os episódios diminuíssem em 50%, com redução de 40% no tempo de evolução das manifestações”, destaca, ao lembrar que os estudos sinalizam que o mais importante como fator desencadeante é realmente a relação de concentração entre lisina e arginina no organismo.

Os primeiros estudos registrados com relação ao efeito dos aminoácidos sobre o vírus do herpes foram feitos na década de 1970 pelo pesquisador N. Milman e publicados na revista Lancet. A pesquisa avaliou a eficácia da suplementação oral de lisina no tratamento de pacientes com herpes labial agudo. Cada paciente recebeu dose com 11 comprimidos de 500mg de lisina, ingeridos no início dos sintomas, seguido de outros de 12 em 12 horas até o desaparecimento total do quadro. Porém, não foram encontradas diferenças entre os grupos que receberam a complementação e o grupo controle.

Posteriormente, o mesmo pesquisador realizou um novo estudo com pacientes com antecedentes recorrentes da enfermidade. Durante 12 semanas, um grupo de pacientes recebeu placebo e o outro ingeriu 500mg de lisina com intervalos de 12 horas. Novamente, não houve redução significativa dos surtos, duração ou severidade. Em 1984, uma nova pesquisa, realizada por D. J. Tein e W. C. Hurt, combinou a suplementação oral prolongada de lisina (1.000mg/ dia) com a restrição dietética de arginina. Durante seis meses, os resultados não apontaram diferenças significativas entre o grupo que recebia placebo e os demais pacientes. Porém, após os 12 meses, o grupo que recebeu a suplementação mostrou redução de 40% nas crises de herpes labial, correlacionadas a concentrações séricas de lisina acima de 165nmol/ml.


Colaborou Dra. Meire Gonzaga / ®Derma Master
matéria Deh Oliveira
Especial para Super Saudável / link